terça-feira, 24 de maio de 2011

Como os nossos pais - Dedicado aos ídolos dos e aos 'Filhos da Revolução'

Olá Pessoal, Passado quase um ano de ausência deste humilde diário virtual, porém sem nunca renunciar a utopia, estou por aqui mais uma vez. Volto não com textos meus, mas de pessoas que me inspiram na caminhada. O primeiro, que lerão logo em seguida, é de Camila Paula, poetisa e mulher com quem vivo e partilho minhas utopias e quimeras, postado no seu blog http://macabeadelamancha.blogspot.com O segundo, logo abaixo, é de Frei Betto, e trata do relacionamento homoafetivo à luz da bíblia, de uma maneira, sobretudo, amorosa, divulgado no site adital.com.br

Caminhemos...

A amiga Ellen Dias nos falou em seu post de hoje (pode conferir www.mundodaedias.blogspot.com) sobre os 'Filhos da Revolução', colocando que somos um 'bando de reclamões'. Atualmente somos uma geração de reclamões. Concordo. Mas o pior é que somos reclamões acríticos, que não questionam, que não se INDIGNAM (não sentem verdadeira repulsa) com a atual situação do bairro, da cidade, do Estado, do País, de Serra Leoa (País mais pobre do mundo), e assim por diante... Porque reclamamos baseados em nossas necessidades primárias como fatalidade (fatalidade é o mal que nos mantem aprisionados à mediocridade); reclamamos aquilo que pesa ao nosso bolso (caso da #gasolinaRN); reclamamos questões individualistas e pronto. Fato. E é este fato que nos transforma em meras peças de uma 'Engrenagente' (Linha de montagem - Chico Buarque) capitalista. Nestes tipos de reclamações perdemos a capacidade de sermos sujeitos de nossas histórias, agentes transformadores da sociedade - sim, esse é o papel que não assumimos nos escondendo em óculos e calças coloridos (não me levem a mal os Restarts, ou não), em preocupações mesquinhas e 'egoísticas'. O ser humano é por si próprio antagônicamente generoso - eu acredito nisso - mas se perde na ditadura hedonista do mundo no qual estamos 'passando' (porque viver mesmo, implica uma causa, coisa que não temos). O querido Renato Russo já reclamava em suas canções, e com o qual, venho dialogar neste momento quando ele dizia: "Somos os filhos da Revolução/ somos burgueses sem religião/somos o futuro da nação/ Geração coca-cola", e penso: - Não, eu não quero ser a 'juventude numa propaganda de refrigerentes (Terra de Gigantes - Hengenheiros do Hawaii). É preciso resgatar a identidade de 'filhos da revolução'. 'Filhos da Revolução' é um termo muito forte, não? Não!!! Isso é o que querem nos fazer engolir (igualzinho a Coca-cola). Mas o mundo ainda não está perdido porque alguns (um dia muitos) de nós nos encontramos para debater, discutir, protestar, fazer greve, e: RECLAMAR CONSCIENTES DE QUE PODEMOS NOS FAZER OUVIDOS! Para encontrar o elo de 'filhos da revolução' resgato a memória dos nossos pais que Elis cantava, na composição do Belchior: Já faz tempo/Eu vi você na rua/Cabelo ao vento/Gente jovem reunida - estes eram os nossos pais (Os dos anos 60 - que revolucionaram com a ideia de liberdade; dos anos 70 - que disseram basta ao machismo; dos anos 80 - que pitaram as caram para proclamar as Diretas já!; e ainda dos anos 90 - que tiraram um presidente de seu cargo 'Fora Collor')E nós, dos anos 2000 um dia seremos pais também - e o que estamos fazendo? Para nós, dos anos 2000: 'Na parede da memória/ Essa lembrança/ É o quadro que dói mais (...) Peço licença para dizer que: minha dor é preceber/ que apesar de 'terem feito tudo que fizeram' nós não somos os mesmos e não vivemos como os nossos pais. Mas eu digo também que enquanto houver ao menos os sonhos e os, hoje chamados de idealistas malucos beleza (Raul Seixas), sonhadores, que além de reclamar acreditam que 'Amanhã vai ser outro dia' (Chico Buarque)e fazem algo para mudar este mundo, poderemos ser os 'perdidos' Filhos da Revolução e deixar de herança para a próxima geração o desejo de ser - 'Como os nossos pais'!

Os Gays e a Bíblia - Frei Betto

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as "pessoas diferenciadas”...).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc.).

No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela "despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que "quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os "eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

[Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de "Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto

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