quinta-feira, 16 de junho de 2011

Nostalgia de um pretérito presente

Por vezes nos bate aquela saudade de um tempo que não vivemos. Grandes passeatas, tropicália, Comunidades Eclesiais de Base, contracultra, movimento hippie, Marx, Sartre e Simone de Beauvoir estão de alguma forma inscritos em nossa memória. Um passado não vivido que nos apaixona em razão de um presente vivido que nos decepciona. A dormência dos dias atuais faz com que busquemos utopia em um pretérito não experimentado. Todavia, por vezes, espasmos de uma loucura revolucionária nos carregam a uma chama de esperança nesses tempos. Um desses espasmos está a pulsar há mais de uma semana. Dezenas de jovens que mais tarde seriam acompanhados por diversos movimentos sociais fazem história em Natal/RN, ao acamparem na Câmara Municipal desta cidade. Estão lado a lado no acampamento barracas, debates políticos, bandeiras e muita arte. Esse é o cotidiano. Vivendo diariamente uma batalha jurídica e política, o grupo auto-intitulado #foramicarla promove a #primaverasemborboleta em alusão à prefeita “ambientalista” Micarla de Sousa acusada de uma série de irregularidades e desvio de verbas públicas. O que o movimento quer? A instauração de uma CEI (comissão especial de investigação) para que sejam investigados esses possíveis desvios de dinheiro público. Algo simples mas que até agora foi negado pelos vereadores. Porquê? Não se sabe. Medo de algo, quem sabe. Hoje, quinta-feira, dia 16 de junho, acompanho de perto esse processo. O passado teria chegado ao presente ou o presente é a continuidade de um passado? Talvez as duas coisas. Saudações a esses revolucionários e revolucionárias da pós-modernidade, que como bem definiu o advogado Daniel Pessoa de forma poética no Habeas Corpus impetrado no STJ que permitiu a permanência do movimento na câmara: "São todos e todas, negros, pardos, cafuzos, mamelucos, amarelos, índios, brancos, vermelhos, mulatos, enfim de todas as cores de pele que se possa imaginar, mas todos e todas integram a raça humana; São todas e todos, ubandistas e das demais religiões de matriz africana, cristãos, católicos, evangélicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos, heterodoxos, mulçumanos, judeus, xintoístas, budistas, enfim professam todas as expressões religiosas do mundo; São todos e todas, homossexuais, heterossexuais, lésbicas, gays, travestis, transsexuais, transgêneros, bissexuais, enfim de todas as cores e expressões da liberdade e diversidade sexual; São todas e todos, de esquerda, centro, e até de direita, anarquistas, comunistas, socialistas, ambientalistas, militantes dos Direitos Humanos, liberais, capitalistas, ricos, pobres, trabalhadores, enfim de todas as matizes ideológicas, políticas e socioeconômicas; Em suma, são todos e todas, brasileiros de toda e qualquer procedência nacional"

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Todas las voces, todas! Todas las manos, todas! À esquerda, por favor!

A eleição de Ollanta Humala no Peru dá continuidade a um processo muito importante na América Latina, a ascensão de governos de esquerda em todo o continente. É, sem dúvidas, momento de luta e festa, bem no estilo latino de ser. Endurecer sem perder a ternura. Frei Betto lembra que a história recente da grande pátria pode ser dividida em três momentos: O período ditatorial, entre os anos 60-80, onde vários países viviam sob regimes de exceção; o período neo-liberal, anos 80-90, onde a idéia de livre comércio se espalhou por essas bandas do sul; e agora o período de governos de tendência socialista e social democrata. A lista é grande e dá gosto de ver: No Paraguai o ex-bispo e teólogo da libertação Fernando Lugo. Na Argentina Cristina Kirchner. Na Bolívia o líder indígena Evo Morales. Na Venezuela o militar insurgente Hugo Chaves. Em Cuba Raul Castro. No Uruguai o ex-guerrilheiro Pepe Mojica. No equador o também influenciado pela esquerda cristã Rafael Correa. No Brasil a ex-guerrilheira Dilma Rousseff e agora no Peru Ollanta Humala. Mas o que isso significa? Duas coisas em especial. Primeiro, deixa transparente que nós latino-americanos temos processos políticos muito estreitos o que, de fato, demonstra nossa irmandade como um dia falou Bolivar. Segundo, que o crescimento da esquerda no continente é reflexo da falência e incapacidade das propostas capitalistas. A miséria e exclusão social causadas pelo sistema do capital fez com que o povo percebesse a necessidade de uma mudança radical de paradigmas. Mais do que vitórias partidárias, o atual contexto é resultado de lutas populares espalhadas pela Pachamama. Cabe a nós aproveitarmos essa oportunidade histórica e construirmos uma civilização mais justa e fraterna nessa parte colorida do globo. Mesmo os EUA não aceitando, estamos com a chance, mais do que nunca. Sejamos competentes! Venceremos!

E assim como cantou Mercedes Sosa em "Canción con todos", hino da unidade na América Latina felicitemos:

"Salgo a caminar/ Por la cintura cósmica del sur/ Piso en la región/ Más vegetal del tiempo y de la luz/ Siento al caminar/ Toda la piel de América en mi piel/ Y anda en mi sangre un río/ Que libera en mi voz/ Su caudal/

Sol de alto Perú/ Rostro Bolivia, estaño y soledad/ Un verde Brasil besa a mi Chile/ Cobre y mineral/ Subo desde el sur/ Hacia la entraña América y total/ Pura raíz de un grito/ Destinado a crecer/ Y a estallar./

Todas las voces, todas/ Todas las manos, todas/ Toda la sangre puede/ Ser canción en el viento./

¡Canta conmigo, canta/ Hermano americano/ Libera tu esperanza/ Con un grito en la voz"