quinta-feira, 11 de março de 2010

Não, no chão não pode.

Essa semana tive a grande alegria de precisar ir à Caixa Econômica Federal. Isso para mim é sempre um grande prazer. Fui. Ao chegar peguei a ficha número 185. Fiquei, lógico, muito feliz com isso. Caminhei ao setor responsável para esperar (muito) a minha vez. Dado que o local de espera disponibilizava do montante extraordinário de cerca de vinte cadeiras para mais de 200 pessoas e todas as vinte cadeiras (TODAS) já estavam ocupadas, teria que esperar de pé. Mas resolvi, mesmo assim, de algum modo, cumprir o ditado, "esperar sentado". Depois de analisar as milhares de possibilidades que o banco me fornecia, me apareceu, assim como um oásis no deserto, um cantinho de parede com um design atraente, uma boa acústica, temperatura agradável e ótimos azulejos para encostar minha parte traseira. Fui até lá. Pronto, me sentei no chão. Senti assim o aconchego que o banco sempre me oferecera. Agora esperaria 184 pessoas serem atendidas em ótimo estilo. Infelizmente, assim como uma brisa fria por Mossoró, minha felicidade logo se foi. Não demorou muito para que um dos seguranças da agência (para minha surpresa muito bem educado) me informasse que eu não poderia ficar sentado ali no chão, o banco não permite, e que se o gerente me visse naquela situação iria me pedir para levantar. Fiquei alguns segundos parado. Tentei impor outro significado ao mosaico de palavras que me foi dirigido que não aquele que já tinha entendido. Olhei para o guarda, soltei algumas palavras entre sorrisos, retribuí sua boa educação, desconversei. Continuei sentado. Agora mais do que nunca. Baixou em mim o espírito de uma criança emburrada. A raiva que me abateu fez-me canalizar toda a força mecânica de meu corpo em direção ao chão para que tivesse a certeza que estava realmente ali sentado. Daí em diante se misturaram em minha cabeça interrogações a mim mesmo: "E não pode sentar no chão, vou sentar onde? Tenho que esperar em pé? E por quê não colocam mais cadeiras?" com a raiva nascida da situação e a vontade de que o gerente aparecesse para que, de forma freudiana, me explicasse o motivo de não ter cadeiras e mesmo assim não poder se sentar no aveludado chão. Em que pese a profecia do segurança, esperei algum tempo ali sentado sobre os meus confortáveis azulejos e o gerente não apareceu. Acho que não me viu. Creio que em razão da multidão que se acumulava no banco dificultando sua visão para os demais pontos da agência. Chegada a minha vez de ser atendido, tendo o ponteiro do relógio dado vários voltas em torno do corpo que o sustenta, levantei do chão frio e fui até o guichê. No caminho de retorno para casa fiquei a divagar o que diria o gerente ao me ver sentado naquele sacro-santo chão. Talvez entre centenas de outros motivos totalmente compreensíveis ele teria me dito: "Caro cliente, imagino que o senhor saiba que mesmo com a crise econômica mundial a Caixa obteve um lucro de cerca de R$ 3 milhões no ano de 2009, isso tudo devido às inúmeras tarifas pagas por nossos clientes, como o senhor. Sei que o número de cadeiras é reduzido por demais, sem falar no tempo de espera. Sei também que vocês clientes pagam tarifas caras por nossos serviços e na maioria das vezes o referido serviço não é prestado com a qualidade necessária, o que é uma afronta ao direito e dignidade dos senhores. Todavia, eu não tenho nada a ver com isso e quero que o senhor levante-se agora do chão pois atitudes como essa mancham a imagem de nosso querido banco, agradeço".

3 comentários:

Mia disse...

Gostei muito do seu espaço. E descobri nessas entradas e saídas de links da graaaande rede. E quando vejo a origem - olha, Mossoró!
Abraço!
Volto sempre

J. Ricardo disse...

Joaum,
é impressionante que o tempo passa mas atualidade deste teu texto tem que ser ressaltada.
O desrespeito aos clientes acho que é amrca por este sistema bancário, especialmente o estatal que consegue ser mais desrespeitoso ainda.
Eu fico me perguntando porque nós aceitamos tudo isso calados, omissos e não exigimos nosos direitos de consumidores.
Arght!!! isso me dá nos nervos...
em tempo, o blog é ótimo !
abração,
Zeh

Anônimo disse...

mto bom esse seu texto viu...e o diálogo final é ótimo, sucinto e mostra sarcasticamente a verdade diante dos nossos olhos.

Amanda...gostei do teu blog :D escreva mais viu...quero ler, hehe