terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ônibus, enxadas e a Mossoró do presente.

O relógio marcava 13:30. Um pé após o outro seguia em direção ao local onde esperaria o transporte coletivo. O sol estava à pino. Sentia-o tão próximo a minha cabeça que tinha a impressão de poder alcançá-lo com as mãos. Em que pese ser aquela a hora mais quente do dia, em Mossoró é o momento mais propício de se conseguir embarcar em um ônibus sem ter que esperar uma hora e meia. Nesse horário, se tiver sorte, passam até três ônibus dentro de uma mesma hora. Não é novidade que por essas bandas as coisas costumem funcionar às avessas, ora, com o sistema de transporte público não seria diferente. Em sua essência, o transporte público existe para servir ao povo. Em alguns casos, o poder público faz uma concessão para que empresar privadas o exerçam, mas obedecendo o mesmo princípio. Aqui , no entanto, é diferente. É o povo que serve ao transporte público. Os ônibus só transitam nos horários que lhes garantam lotação máxima e também para os bairros que obedeçam a essa lógica. Ônibus em fim de semana e feriado é artigo de luxo. Isso sem falar no preço das passagens, mais parece que Mossoró é uma metrópole. Pois bem. Enquanto me encaixava em uma sombra generosa, já que não contamos com pontos de ônibus, via do outro lado da rua dois senhores a serviço da prefeitura, aparentando bem mais idade do que deveriam ter, a ceifar a grama das sarjetas utilizando-se de enxadas num rítimo frenético. Parecia que o sol lhes era indiferente. Talvez por isso não usassem equipamento de proteção, salvo bonés com abas quebradas. Ou será que não usavam por simples falta mesmo? Enquanto, abraçado por uma sombra, brigava com o sol por ser tão cruel e perguntava a mim mesmo se seria necessário aqueles idosos estarem ali naquela hora. Já não bastava o simples fato de serem idosos trabalhando em um serviço tão desgastante, ainda tinham que estar ali na hora mais impiedosa do dia. Passados quarenta minutos de reflexão e espera, o ônibus não aparece. Me rendo ao sol e caminho de volta para casa. Deixo ao fundo apenas o ritimado das enxadas.

2 comentários:

Leilane Regis disse...

Muito bom o texto! Simplista na essência, mas brilhante além da aparência!

Anônimo disse...

poxa, mto bom...simples, mas consiso.